Apesar do fraco desempenho em 2012, a economia e a indústria brasileira retomarão o crescimento no próximo ano. O Produto Interno Bruto (PIB) do país terá uma expansão de 4% e a indústria crescerá 4,1% em 2013. As previsões estão na edição especial do Informe Conjuntural – Economia Brasileira, divulgado nesta segunda-feira, 3 de dezembro, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O documento alerta, no entanto, que a concretização dessas estimativas depende da redução dos custos de produção e do aumento da produtividade. “O Brasil pode crescer com mais ou menos intensidade”, destaca o Informe Conjuntural. "Com avanços na competitividade, podemos crescer 4% ou mais de forma sustentada; sem eles, o teto é de 3%”, adverte o estudo.
Conforme o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, as perspectivas para 2013 são positivas porque os efeitos das medidas de estímulo à economia, como a desoneração da folha de pagamento, a redução dos juros e das tarifas de energia, serão sentidos nos próximos meses. Mas ele lembrou que o país precisa de outras ações para incentivar a competitividade das empresas e os investimentos.
Entre as medidas necessárias, Andrade citou a renovação do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), programa que dá crédito presumido de 3% sobre as exportações para compensar os créditos tributários não recuperáveis, o fim da guerra fiscal e a desoneração total dos investimentos. "Os investimentos são responsáveis pelo crescimento duradouro da economia", disse Andrade.
O cenário positivo para 2013 considera continuidade da crise na Europa e nos Estados Unidos sem grandes rupturas, mas com processo lento de recuperação, e a efetividade das medidas de estímulo à economia brasileira, principalmente às destinadas a aumentar a competitividade da indústria.
Caso isso ocorra, os investimentos crescerão 7% e o consumo das famílias aumentará 3,8%. Com a recuperação da economia, o emprego e a renda dos trabalhadores continuarão aumentando. “A taxa de desemprego média deverá cair para 5,3% em 2013, novo piso histórico”, prevê a CNI.
Mas a CNI alerta para a possibilidade de um cenário alternativo, no qual as medidas de apoio ao aumento da competitividade serão insuficientes para ampliar a confiança dos empresários e os investimentos na indústria. Nesse cenário menos otimista, é provável que a indústria cresça apenas 2,3% em 2013. O PIB aumentará 3% e os investimentos, 4%.
“Para o consumo das famílias pouca coisa mudaria, mesmo considerando menor ritmo da economia. A diferença estaria somente na origem dos produtos adquiridos, já que uma parcela maior do consumo seria direcionada para os produtos importados”, estima o Informe Conjuntural.
ANO PERDIDO – Na avaliação da CNI, a economia brasileira teve um desempenho frustrante em 2012. As previsões indicam que o PIB crescerá somente 0,9% e o PIB industrial fechará o ano com queda de 0,6%. De acordo com o documento, esses resultados confirmam que o modelo de crescimento brasileiro, baseado apenas no consumo, é insustentável.
“Desde o fim do ano ado, a CNI chama a atenção para o fraco desempenho da economia, particularmente da indústria, e para a necessidade de um crescimento do investimento em equilíbrio com o crescimento do consumo das famílias”, diz o Informe Conjuntural. A estimativa é que os investimentos tenham uma queda de 4,5% neste ano, enquanto que o consumo das famílias crescerá 3,1%.
FALTA COMPETITIVIDADE – Com a queda da atividade industrial, a participação da indústria no PIB cairá ainda mais em 2012, avalia a CNI. O mau desempenho do setor é resultado da perda de competitividade nos mercados interno e externo. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), a participação da produção industrial brasileira no total da produção dos países desenvolvidos caiu de 8% em 2000 para cerca de 5% em 2010. No mesmo período, a China aumentou sua participação de 32% para 47%.
Diversos fatores explicam o fraco desempenho da indústria brasileira. “A estagnação da produtividade e o alto custo de produzir estão na raiz do problema. O baixo nível de investimento, a qualidade da regulação, o excesso de burocracia e a qualidade da educação são algumas das razões para a baixa produtividade”, avalia a CNI. “Com ganhos de produtividade escassos, o aumento dos custos se transforma em perda de competitividade.”
Para superar esses obstáculos, a médio e longo prazo, a indústria recomenda que o Brasil invista na qualidade da educação e estimule o investimento em inovação. “No curto prazo, é preciso aprofundar as políticas de redução de custo”, afirma o Informe Conjuntural.
“O retorno a um crescimento vigoroso exige um ataque frontal ao problema da competitividade”, adverte a CNI. “Esse ataque engloba duas vertentes: a pública e a privada. O governo deve concentrar as políticas públicas na melhora da infraestrutura, na redução dos custos sistêmicos e na construção de um ambiente de estímulo ao investimento. As empresas, em resposta aos menores custos e a um ambiente favorável aos negócios, devem investir em inovação e no aumento da produtividade.”
Confira outras previsões da CNI para 2013:
No próximo ano, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficará em 5,5%, igual ao previsto para 2012. A estimativa considera que os preços vão variar com a retomada da atividade econômica, a volta da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis, a redução das tarifas de energia elétrica e o provável reajuste dos combustíveis. Na avaliação da CNI, os preços dos alimentos devem recuar e os preços dos serviços voltarão a crescer no final de 2013.
Com a inflação superior a 5%, o Banco Central continuará perseguindo a manutenção da inflação dentro do limite superior da meta. Assim, os juros básicos da economia deverão se manter em 7,25% ao ano em 2013. A taxa de juros real média do ano que vem cairá para 1,4%.
Não há perspectiva de mudanças na política do governo em tentar manter o câmbio no patamar atual. Com isso, a cotação média do dólar ficará torno de R$ 2,06 em 2013.
O aumento da competitividade da indústria brasileira será decisivo para o crescimento das exportações de produtos industriais. No cenário positivo, as exportações crescerão 5,6%, e alcançarão US$ 258,3 bilhões. Acompanhando o aquecimento da atividade econômica, as importações crescerão 6,8% e totalizarão US$ 240,2 bilhões. Com isso, o saldo comercial alcançará US$ 18,1 bilhões em 2013.
A política fiscal continuará expansionista em 2013. O Projeto de Lei Orçamentária Anual prevê crescimento expressivo de despesas obrigatórias e discricionárias. Considerando um provável contingenciamento de R$ 12,1 bilhões em 2013, a CNI projeta crescimento real de 6% nas despesas e também de 6% nas receitas do governo federal. Com isso, o superávit público primário somará R$ 112,7 bilhões, o equivalente a 2,3% do PIB.