O manauara Maurício Duarte Ferreira, 20 anos, frequentava as feiras de artesanato em que sua mãe, a artesã Edsandra Lopes Duarte, de 46 anos, expunha seu trabalho de reutilização da madeira usada em pallets. O convívio com os artesãos aproximou Maurício da moda. “Eu gosto de coisas criativas. Gosto de mudar, de transformar e de inventar”, diz o jovem que representará o Brasil na ocupação de Vitrinismo, na WorldSkills São Paulo 2015.
Ao concluir o ensino médio, ele começou a cursar Educação Física na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). “Desde o início, vi que não tinha nada a ver comigo, mas insisti por causa dos meus pais. Com o tempo comecei a fugir das aulas de Educação Física para acompanhar as aulas de Design. Fiz cursos rápidos de serigrafia e xilogravura e assistia às aulas da faculdade de artes como aluno ouvinte”, conta.
Contrariando a vontade da mãe, Maurício abandonou a Educação Física e deixou a universidade pública para fazer o curso de tecnólogo em Design de Moda no Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (Ciesa). Para pagar a universidade privada, se inscreveu e foi aprovado no programa Bolsa Universidade, do governo do Estado, que custeia metade da mensalidade. A outra metade, Maurício pagava com o dinheiro que conseguia vendendo camisetas personalizadas.
CAMISETAS - O negócio começou ainda quando ele estava no ensino médio. A camiseta com uma caricatura que Maurício fez em uma atividade da aula de artes virou sucesso entre os colegas da classe. Ele se animou e fez outras camisetas, postou as fotos em uma rede social. Os amigos ficaram interessados e começaram a fazer encomendas. Ele montou um espaço para receber clientes em casa. “Eu vi que aquilo podia gerar uma renda e comecei a desenvolver outras técnicas”, conta. Os temas eram variados, de acordo com o gosto do cliente, mas geralmente seguiam tendências de moda. Maurício também fazia camisas para turmas de graduação, com nome do curso e do aluno.
O negócio cresceu tanto que o jovem conseguiu um espaço fixo na feira de artesanato da UFAM para expor e vender seus trabalhos. “Aí eu comecei a pintar temas amazônicos como a vitória-régia, araras estilizadas e tucanos. Eram pinturas com técnicas de aquarela”, lembra. Em média, cada camisa custava R$ 35,00. “Acho que produzi mais de 500”, diz. Nesse período, Maurício também participou de feiras internacionais de artesanato realizadas em Manaus. "Com isso, consegui pagar meu curso de Design de Moda", afirma. "Minha mãe ficou orgulhosa. Ela viu que minha escolha era melhor do que insistir em um curso que não tinha nada a ver comigo. Hoje ela em apoia muito”, diz.
COSTURA INDUSTRIAL - Sempre em busca de mais conhecimento na área, Maurício procurou o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e o curso de Costureiro Industrial. Quando as aulas começaram, em abril do ano ado, dois competidores da escola treinavam para a Olimpíada do Conhecimento de 2014. Mas ambos desistiram e, graças aos conhecimentos na área de moda, Maurício foi convidado a representar o Amazonas na ocupação de Vitrinismo, da competição. Treinou durante três meses e ganhou a medalha de ouro.
“O objetivo do vitrinista é chamar atenção para o produto. Apenas colocar uma roupa no cabide não vai dar ideia de como fica no corpo. E não se trata apenas de vestir um manequim. É preciso usar vários efeitos, como iluminação, simetria e assimetria, o conceito da marca e que a empresa quer oferecer e, partir disso, cria-se o projeto", explica.
Como parte do treinamento para a WorldSkills São Paulo 2015, Maurício participou da competição nacional de profissões técnicas da Finlândia, em 2014. É a versão finlandesa da Olimpíada do Conhecimento. O Brasil teve representantes em várias modalidades como país convidado. De lá, Maurício trouxe o segundo lugar, superando inclusive a Holanda, que venceu a competição em 2013.
Além de sonhar com o ouro na WorldSkills, Maurício planeja a conclusão do curso de Design de Moda e uma pós-graduação em Visual e Merchandising. “A minha escolha profissional me proporcionou experiências maravilhosas. Uma delas, por exemplo, foi conhecer e trabalhar com uma das maiores referências do visual merchandising no Brasil e em outros países, Sylvia Demetresco. Fui convidado para acompanhar uma aula de mestrado dela, em João Pessoa, não como aluno, mas como ajudante”, conta.
A WORLDSKILLS - O Brasil será representado por 56 jovens profissionais técnicos na 43ª edição da WorldSkills Competition, em São Paulo, de 11 a 16 de agosto. Essa é a maior delegação já reunida pelo país para a competição. Na WorldSkills, os 1.200 competidores, todos com menos de 22 anos de idade, de 62 países, disputam medalhas em 50 profissões da indústria e do setor de serviços. Ao longo de quatro dias de provas, eles precisam alcançar índices de excelência ao executar tarefas semelhantes às que realizariam em situações reais do dia a dia das indústrias ou no setor de serviços. Todos são avaliados pelas habilidades técnicas e pessoais.
SAIBA MAIS - Saiba tudo sobre a WorldSkills São Paulo 2015. e o site do mundial. Para conhecer os outros competidores brasileiros, e o site da Olimpíada do Conhecimento/WorldSkills, do SENAI.