Muito esforço, dedicação e compromisso com um treino intenso, diário e cansativo. Aliados ao foco na realização quase perfeita das tarefas técnicas e à vontade de vencer, formam os ingredientes da receita de como se faz um campeão do torneio mundial de profissões técnicas, a WorldSkills. Realizado a cada dois anos, o campeonato reúne jovens alunos da educação profissional de mais de 60 países. Se por um lado, a receita significa abrir mão de horas de diversão e de convívio social, por outro, representa um divisor de águas para uma carreira bem sucedida no mercado de trabalho.
O paulista Henrique Santana, 23 anos, foi medalha de ouro no torneio mundial de 2013, na Alemanha, na ocupação de Fresagem a CNC (Comando Numérico Computadorizado) uma área da indústria que fabrica peças em metal por meio de máquinas programáveis por computador. O ex-aluno do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que na época tinha apenas 20 anos, teve 100% de acertos nas tarefas durante as provas. Ele já trabalhava como aprendiz na indústria Bosch, em Campinas (SP), onde mora e teve licença do emprego para treinar e participar do evento.
Ao retornar com o título de melhor profissional de fresagem a CNC do mundo, o rapaz foi promovido a planejador técnico de ferramentaria na Bosch, cargo que normalmente levaria alguns anos de trabalho para conseguir. Ele atribui o salto na carreira ao acúmulo de conhecimento e à prática durante sua preparação. “Na Olimpíada, a gente tem um aprofundamento técnico muito grande. Pelo número de horas que a gente estuda, eu diria que o ganho é maior do que o de uma faculdade, porque é muito tempo de especialização”, avalia Santana, que treinou por três anos, dedicando-se de dez a 12 horas por dia. “É uma carga horária bem grande de trabalho e você está se desenvolvendo a cada dia, com possibilidade de ter o a tecnologias mais recentes”, diz.
VONTADE DE VENCER – Um ingrediente fundamental, segundo o joalheiro Leonardo Rodrigues, que ganhou ouro na modalidade durante a WorldSkills 2015, em São Paulo, é a vontade de vencer. "O que mais define alguém como um campeão, na minha avaliação, é a vontade. Quando a pessoa quer muito, não tem adversidade que ela não possa contornar. A parte técnica é imprescindível, o conteúdo aprendido é crucial, mas o grande diferencial é a vontade", diz o rapaz, hoje com 22 anos, que iniciou a produção e a venda de joias que levam sua marca logo após o torneio internacional.
Ao longo de 2016, ele abriu um escritório onde as peças são expostas aos clientes e montou um ateliê para confeccionar os produtos, ambos na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. A chance de competir e de vencer uma edição da WorldSkills foi um divisor de águas na vida de Leonardo, na sua avaliação. "Isso é como o meu cartão de visitas", diz ele, que produz peças customizadas, de acordo com o perfil de cada cliente.
Como resultado de tantos anos de treinamento e estudos, os jovens profissionais que am pela intensa preparação oferecida pelo SENAI para o torneio mundial desenvolvem habilidades valorizadas no dinâmico mercado de trabalho. A designer gráfica catarinense Carla de Bona, 31 anos, foi medalha de prata nessa profissão no campeonato realizado no Japão, em 2007. Graças à preparação para o torneio, ela hoje se define uma profissional organizada e capaz de lidar com a pressão de ter que entregar trabalhos em curtos prazos e de forma eficiente. “Além disso, ganhei a mentalidade de ser focada em resultado e em praticidade, em tentar resolver as coisas em vez de ficar amarrando ou enxergando problema”, explica.
Natural de Criciúma (SC), hoje residente em São Paulo, Carla é dona de uma empresa de consultoria em Experiência do Usuário Digital – UX ( Experience). Além disso, faz palestras e dá aulas na Faculdade de Informática e istração Paulista. Ela destaca que quando se mudou para a capital paulista, ter no currículo uma medalha da WorldSkills fez toda a diferença. “Quando eu fui para São Paulo, não conhecia ninguém. O meu currículo me ajudou a conseguir emprego, pois quando viam no currículo a Olimpíada, ficavam sabendo que era uma competição de alta performance”, comenta a ex-aluna do curso técnico do SENAI em Design Gráfico.
Outro medalhista de ouro no torneio mundial, no Canadá, em 2009, Fernando Mangili, 28 anos, é atualmente projetista na área de engenharia de construção submarina para exploração de petróleo e gás da empresa Subsea, multinacional britânica instalada no Rio de Janeiro. A credencial de campeão mundial na ocupação de Desenho Mecânico em CAD – tecnologia que auxilia no desenvolvimento de projetos de engenharia e que ele estudou no curso do SENAI de Manutenção de Sistemas Eletromecânicos – o ajudou a conseguir a vaga de emprego. Foi o que aumentou seus rendimentos e o estimulou a mudar-se com a esposa de Bauru (SP) para a capital fluminense há cinco anos. “É um trabalho que tem muito mais a ver com o que eu tinha estudado e com uma chance de crescer muito maior do que [no emprego] anterior”, comemora Mangili.
TREINAMENTO – A próxima edição da WorldSkills, a 44ª, será disputada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, de 15 a 18 de outubro. Um grupo de 56 jovens ou por rigoroso treinamento, com duração de um ano, para garantir uma vaga na delegação brasileira que participará do torneio.
WORLDSKILLS - Realizada a cada dois anos, a WorldSkills é a maior competição de educação profissional do mundo. Os melhores alunos de mais de 70 países das Américas, Europa, Ásia, África e Pacífico Sul disputam medalhas em modalidades que correspondem às profissões técnicas da indústria e do setor de serviços. Eles precisam demonstrar habilidades individuais e coletivas para responder aos desafios de suas ocupações dentro de padrões internacionais de qualidade. Ao longo de seus 65 anos, o torneio reúne jovens qualificados de todo o mundo, selecionados em olimpíadas de educação profissional de seus países, em etapas regionais e nacionais.
Em agosto de 2015, a cidade de São Paulo sediou a 43ª WorldSkills, no Anhembi Parque. A delegação brasileira, formada por 56 competidores, foi a grande campeã da edição, conquistando 27 medalhas. Foram 11 de ouro, 10 de prata e 6 de bronze, além de 18 certificados de excelência. No ranking de pontos totais, o time brasileiro ficou no lugar mais alto do pódio. Esse foi o melhor desempenho do Brasil desde que começou a participar da competição, em 1983. A delegação competiu com 61 países, representados por 1.190 competidores, número recorde na história do evento.
MAIS DA SÉRIE
03/10/17 - VÍDEO: A WorldSkills vem aí. Você sabe o que é a competição?
04/10/17 - Competições de educação profissional melhoram ensino em sala de aula
05/10/17 - DNA de campeão: família de confeiteiros coleciona vitórias na Olimpíada do Conhecimento e no mercado de trabalho
06/10/17 - Carreira de sucesso é maior prêmio de campeões mundiais